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Como o Turismo carioca se prepara para voltar ao jogo

17/02/2021

Cristiano Beraldo, secretário de Turismo do Rio (Foto: Marluce Balbino)

Depois de um apagão de quatro anos (com a gestão de Marcelo Crivella e a pandemia de covid-19 no seu último ano de mandato), o Rio de Janeiro tem de volta o comando de Eduardo Paes (que já foi prefeito por dois mandatos e também, lá atrás, secretário de Turismo) e uma nova estrutura para o comando da área de Viagens e Eventos, fundamental para a economia da cidade.


O Portal PANROTAS entrevistou o novo secretário de Turismo do município, Cristiano Beraldo, que chega sem vícios políticos ou da área (é seu primeiro cargo público), mas que demonstra disposição para um relacionamento próximo e transparente com o trade e com outros dois pilares do Turismo na cidade: a Riotur, comandada por Daniela Maia, e a área de Eventos, por Antonia Leite Barbosa.


A Riotur, órgão mais conhecido do Turismo carioca, mas que beirou o desastre na gestão Crivella, inclusive com suspeitas de estar envolvida no QG da Corrupção, continuará cuidando da relação da cidade com os grandes eventos, como o Carnaval. Já a assessoria de Eventos, tendo à frente Antonia Leite Barbosa, tem a missão de facilitar a captação de eventos corporativos e de lazer na Cidade Maravilhosa. “Ficou difícil fazer eventos no Rio e perdemos para outras cidades”, disse o secretário Cristiano Beraldo.


Segundo ele, os três órgãos têm gestão independente e papeis bem definidos. Sua secretaria, que terá sede em Laranjeiras ainda este ano, enquanto a Riotur está na Barra, tem como missão desenhar o plano estratégico de Turismo da cidade a longo prazo (pelo menos dez anos), dialogar com o setor (o famoso trade) e “promover o Rio como principal destino nacional e internacional do País”.


“O Rio por muito tempo foi mais comprado que vendido. Aproveitamos a fama de décadas passadas, temos Carnaval, Réveillon e Rock in Rio, mas não somos só isso. O Rio tem de ser visitado o ano todo e embrulhado pra presenta para o turista”, disse o secretário.

Beraldo promete reconstruir o Turismo carioca (do zero de um lado, mas a partir de um patamar elevado de reconhecimento nacional e global), apagar a imagem deixada pelo governo anterior e ouvir e dialogar com o setor para inovar, promover e desenvolver mais ainda o destino.


Sua previsão de retomada é para o segundo semestre do ano, quando a cidade recebe o Rock in Rio, festeja os 90 anos do Cristo Redentor e planeja o Réveillon que não tivemos na passagem de 2020 para 2021.

RIO NA PANDEMIA

PANROTAS – Como é assumir seu primeiro cargo público, na Secretaria de Turismo de um dos principais destinos turísticos do mundo, mas em um momento em que viajar está cheio de restrições?

CRISTIANO BERALDO – É sim um momento de muitos desafios, o Turismo vem sofrendo há muito tempo em todo o País. Especificamente no Rio, o trade está muito machucado, de A a Z, tanto pelo momento dolorido quanto por ter sido desamparado pela gestão anterior na cidade. A grande mágoa do setor é a falta de diálogo e já me reuni com as principais lideranças para mostrar que o diálogo está de volta. Claro, o momento é de priorizar a saúde, todos entendem isso, mas o setor precisa estar mais bem informado (sobre as restrições e planos para a saúde) e ser ouvido nas decisões. Estamos também olhando para o futuro e esse diálogo é fundamental para montar esse plano de longo prazo.


PANROTAS – Olhando para frente, quando o senhor acredita que poderemos dizer que a normalidade estará de volta? Para que época desse ou do próximo ano o senhor está olhando?

CRISTIANO – A perspectiva é que no segundo semestre já estejamos em um nível mais elevado de retomada da normalidade. Temos dois grandes eventos no segundo semestre, os 90 anos do Cristo Redentor, na semana de 12 de outubro, e o Rock in Rio, e estamos otimistas com essa retomada. Antes disso é preciso que o carioca volte a se animar com a cidade. A cidade esteve mal cuidada e isso afetou a população, que, não vendo ordenamento urbano, também passou a burlar regras, como estacionar em locais proibidos, jogar lixo na rua... Vamos reconectar o carioca com a cidade. O prefeito Eduardo Paes conta com a simpatia dos cariocas, que o reconhecem como apaixonado pela cidade, um trabalhador, e que incentiva muito o Turismo.


TURISMO RESPONSÁVEL

PANROTAS – Mas o Turismo não pode esperar o segundo semestre e já vimos que é possível viajar com responsabilidade. Como o Rio está recebendo esses viajantes, em sua maioria domésticos, que buscam relaxar com isolamento e segurança?

CRISTIANO – Quem chega neste momento tem uma boa experiência. A hotelaria, os bares, restaurantes e atrações estão bem preparados para recebê-los com segurança. Temos muita sorte de contarmos com verdadeiros resorts urbanos no Rio, que têm atraído visitantes nacionais que ficam bastante tempo aproveitando essa estrutura excelente desses hotéis. Por outro lado, a Prefeitura está fiscalizando, acabando com as festas clandestinas e incentivando um Turismo sem aglomeração, que é o que o momento pede.


PANROTAS – O senhor disse que o prefeito entende a importância do Turismo e tem incentivado a pasta... Como ele tem feito isso?

CRISTIANO – Primeiro criando essa estrutura com três áreas bem definidas para a Secretaria de Turismo, a Riotur e a Assessoria de Eventos. No governo passado a secretaria não teve importância e chegou a ser desativada. Isso em uma cidade que tem enorme dependência do Turismo. O prefeito Eduardo Paes entende essa importância, sabe do impacto econômico do Turismo e também que estamos começando do zero. Esperamos estar com o plano estratégico pronto em abril, olhando para o longo prazo e para a continuidade. O Turismo tem que ter essa continuidade. Temos que olhar para os próximos dez anos pelo menos, quando o Cristo celebrará 100 anos. O Cristo é o maior símbolo turístico do Brasil. Não podemos abrigar esse símbolo e não aproveitar para divulgarmos toda a diversidade do Rio. Não podemos ser um destino lembrado por estereótipos, como as mulheres na praia, por exemplo.

NICHOS

PANROTAS – Como mostrar essa diversidade do Rio? Aproveitar a fama do Redentor e apresentar um Rio mais completo?

CRISTIANO – Promovendo os nichos, as viagens temáticas, o Rio alternativo, que o turista não conhece. Por exemplo o próprio Turismo religioso, com o Cristo Redentor, que a maioria visita como atração turística, o santuário de Nossa Senhora de Fátima, no Recreio, a Igreja da Penha, as igrejas históricas do Centro, o Mosteiro de São Bento... O Cristo recebe anualmente dois milhões de visitantes e o Turismo religioso pode aumentar isso. Aparecida do Norte recebe 13 milhões de turistas.


O Rio tem tudo: esportes, luxo, bem estar, Turismo social... Outro dia fiz pela primeira vez o tour na Comunidade da Babilônia (no Leme), e impressionante. O contato com a comunidade local, os projetos que lá são desenvolvidos. O Turismo social e com propósito é tendência e o Rio tem produtos para atender esse visitante.


EVENTOS CORPORATIVOS

PANROTAS – O senhor citou os eventos do segundo semestre, ligados ao lazer, ao entretenimento. E os eventos corporativos, quais as perspectivas e planos da secretaria para eles?

CRISTIANO – Somos o local ideal para eventos, congressos, feiras, convenções... Mas ficou difícil fazer um evento no Rio. Isso desanima os organizadores. O Rio pré-olímpico mostrava um mar de oportunidades, mas no governo Crivella perdemos tudo isso, perdemos muitos eventos. E a Antonia está exatamente trabalhando para simplificar isso, apagar essa imagem.


PANROTAS – Há algum projeto para a qualificação dos profissionais de Turismo na cidade?

CRISTIANO – Sim. Isso faz parte de nossa estratégia, As redes hoteleiras, principalmente de luxo, investem e fazem muito bem esse papel de qualificação e treinamento, mas isso não pode ser exclusividade da hotelaria de luxo. O turista não pode chegar na porta do Trem do Corcovado e ser achacado por flanelinhas. Não pode pagar um absurdo para estacionar no Pão de Açúcar. Vamos investir na qualificação dos atrativos e no ordenamento urbano.

SEGURANÇA

PANROTAS – E a eterna questão da segurança na cidade?

CRISTIANO – Temos desafios enormes e a segurança está entre as prioridades do Estado e da Prefeitura. Temos melhorado na segurança pública em áreas turísticas. Não em detrimento de outras áreas da cidade, mas para que esse turista nos ajude a divulgar positivamente o Rio ao voltar para sua casa. Estamos melhorando e vamos chegar em um nível aceitável, ideal.


DEMANDAS DO TRADE

PANROTAS – O senhor disse que se reuniu com representantes do trade de Turismo. Quais as principais demandas desse trade?

CRISTIANO – Diálogo e promoção. O Rio é o grande destino do Brasil, nosso papel é comunicar isso. Há também demandas em relação ao IPTU e impostos, e estamos dispostos a ajudar, dentro dos caminhos legais, pois sabemos que temos uma situação delicada de caixa. Assim que a vacinação avançar e o cenário estiver mais propício vamos iniciar a divulgação da cidade para mostrar que o Rio é mais do que as pessoas conhecem ou imaginam.


DICAS DE CARIOCA

PANROTAS – Como carioca, que dicas de experiências únicas, ou de atrações ainda pouco conhecidas o senhor recomendaria?

CRISTIANO – Esse tour que mencionei do Morro da Babilônia. A experiência do golfe no campo da Barra da Tijuca. O Santuário de Nossa Senhora de Fátima, réplica exata da capela em Portugal. As praias mais distantes, como a Prainha. E até o voo de asa delta duplo, que vendemos mal.

PANROTAS – Há algum projeto para o Centro? A região atraiu investimentos para a Olimpíada e hoje, ainda mais com a pandemia, parece abandonada em alguns pontos.

CRISTIANO – O secretário de Planejamento Urbano, Washington Fajardo, tem um projeto ousado para reocupar o Centro e o Turismo só tem a ganhar com isso. O valor histórico e cultural do centro da cidade é enorme. Some-se a isso o acesso fácil, os meios de transporte, o Aeroporto Santos Dumont, a hotelaria nova, os parques, a vista para o mar. Temos uma região única, que se perdeu, mas que será recuperada. Como está acontecendo com o antigo Zoológico, que será reinaugurado como BioParque, no dia 18 de março. Uma experiência que ficou fantástica na já fantástica Quinta da Boa Vista.


Fonte: Panrotas

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